Seleção natural permitiu que moradores do deserto de Atacama tolerassem veneno

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Quando os colonizadores chegaram ao Deserto de Atacama há 7.000 anos, eles foram confrontados com um dilema impossível: beber água envenenada ou morrer de desidratação.

Eles tinham chegado ao deserto não polar mais seco da Terra e a única água disponível era contaminada com altos níveis de arsênico.

Apesar disso, os colonos floresceram e centenas de pessoas do Atacama ainda vivem hoje nas duras condições do deserto.

Agora, os cientistas descobriram que o segredo para a sua sobrevivência reside na sua capacidade única de beber e digerir arsênico.

Os pesquisadores analisaram os genes de 150 pessoas que vivem no deserto de Atacama no Chile e identificaram uma variante rara de uma chave genética para a digestão.

A chave para digestão do arsênico

O gene codifica uma enzima chamada AS3MT, ou arsenito metiltransferase, que divide o arsênico em dois compostos menos tóxicos.

Eles descobriram que as pessoas que vivem na região da Quebrada Camarones do deserto de Atacama, onde os níveis de arsênico são mais de 100 vezes superiores aos limites seguros da Organização Mundial de Saúde, provavelmente terão a rara mutação genética.

“Nossos dados sugerem que uma alta capacidade de metabolização do arsênio foi selecionada como um mecanismo adaptativo nessas populações para sobreviver em um ambiente carregado de arsênio”, disse Dr. Mario Apata, da Universidade do Chile, em um trabalho de pesquisa.

Os pesquisadores descobriram que 68 por cento das pessoas que vivem nessa região do Chile possuíam a variante genética rara responsável pela digestão do veneno.

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Deserto de Atacama

Arsênico

O arsênio é um elemento químico tóxico que existe naturalmente como um mineral sólido no solo. O composto muitas vezes contamina o abastecimento de água subterrânea, o que tem levado ao envenenamento por ácido arsênico em todo o mundo.

A curto prazo, arsênico provoca vômitos, dor abdominal intensa e diarreia e, a longo prazo, arsênico pode causar o espessamento da pele, doenças cardíacas, câncer e problemas com o desenvolvimento do embrião.

Seleção Natural

Os pesquisadores acreditam que as duras consequências da intoxicação por arsênico levaram a um período de rápida seleção natural entre os moradores do deserto.

Eles disseram que, enquanto as pessoas que tinham a variante genética favorável de AS3MT poderiam sobreviver e reproduzir, aqueles sem o gene adquiriram doenças graves e morreram sem ter filhos.

Ao longo do tempo, isso aumentaria o número de pessoas com a capacidade de digerir arsênico na população.

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A variante que permite às pessoas beberem água envenenada é conhecida como um polimorfismo de nucleotídeo único, o que significa que apenas uma única mudança no DNA teve de ser alterada para dar origem à capacidade única.

Estudos anteriores mostraram que as pessoas que vivem com níveis elevados de arsênio no Vietnã e na Argentina também possuem uma variante única do gene AS3MT.

O estudo foi publicado no American Journal of Physical Anthropology e Daily Mail

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