A floresta amazônica é um tesouro de biodiversidade, contendo 10% de todas as espécies do planeta em seus 6,7 milhões de quilômetros quadrados.
Agora, um novo estudo sugere que uma grande parte da floresta foi duas vezes inundada pelo Mar do Caribe há mais de 10 milhões de anos, criando um curto mar interno que impulsionou a evolução de novas espécies. Mas as novas evidências ainda não convenceram todos os cientistas que estão nesse debate.
“É difícil imaginar um processo que cubra uma floresta tão grande com um oceano”, diz o autor principal Dr. Carlos Jaramillo, paleontólogo do Smithsonian Tropical Research Institute, na Cidade do Panamá, que esteve em ambos os campos.
Os pesquisadores geralmente concordam que partes da Amazônia estavam sob água, mas não concordam de onde a água veio. Alguns acham que a água fresca que fluem dos Andes pode ter proporcionado a divisão de plantas e animais em grupos isolados que se tornaram mais tarde novas espécies.
As montanhas de rápido crescimento também criaram microclimas em diferentes elevações, estimulando a especiação e canalizando novas plantas e animais para a bacia amazônica. No entanto, quando os microrganismos marinhos foram descobertos em sedimentos amazônicos na década de 1990, alguns cientistas levantaram a hipótese de que a floresta já foi inundada por um oceano, que criou novas espécies como moradores da floresta rapidamente adaptados ao dilúvio.
Mas provar qualquer hipótese é difícil. Rochas e fósseis que poderiam pintar um quadro definitivo são extremamente raros.
A pesquisa
Então Dr. Jaramillo e seus colegas se voltaram para um tipo diferente de dados: núcleos perfurados no chão da selva. Seis centímetros de largura e 600 metros de profundidade, os núcleos cilíndricos preservam um registro dos ambientes passados da região na forma de pólen, fósseis e sedimentos de milhões de anos atrás.
Dr. Jaramillo usou dois núcleos: um do leste da Colômbia, perfurado por uma empresa petrolífera, e outro do nordeste brasileiro, levado pela Pesquisa Geológica Brasileira nos anos 80.
A equipe estudou os núcleos camada por camada. A maioria dos restos veio de espécies terrestres. Mas em duas camadas finas, encontrou o plâncton marinho e conchas. O núcleo colombiano ainda continha um dente de tubarão fossilizado e um camarão mantis, ambos habitantes do oceano.
Isso foi suficiente para convencer Dr. Jaramillo, que já estava firmemente no acampamento do rio, que o Mar do Caribe tinha chegado ao Oeste da Amazônia no Brasil, no Equador e no Peru duas vezes: uma vez há 18 milhões de anos, e novamente há 14 milhões de anos. “É um ecossistema perdido”, escreveu o Dr. Jaramillo na revista Science Advances.
Duração da inundação
Estes mares não duraram por muito tempo. No noroeste do Brasil, a primeira enchente durou cerca de 200 mil anos, enquanto a segunda durou 400 mil anos. A Colômbia, que está mais próxima do Caribe, foi inundada por um período mais longo, 900 mil e 3,7 milhões de anos, respectivamente. Essas inundações poderiam ter sido causadas pelos Andes, diz Dr. Jaramillo.
As montanhas teriam empurrado para baixo o resto do continente enquanto cresciam, deixando fluir de água do mar para dentro da floresta. Mas aquela água teria sido rapidamente deslocada como água doce e sedimentos fluíram abaixo os picos e reconstruíram a bacia.
No tempo geológico, essas inundações duraram apenas um piscar de olhos, “mas ainda é muito tempo para uma árvore”. Mesmo esses eventos relativamente curtos teriam transformado a região.
Opiniões
O novo trabalho “torna o caso [de inundações marinhas] muito mais forte e torna o momento mais preciso”, diz Dra. Carina Hoorn, geóloga da Universidade de Amsterdã e Universidade Regional Ikiam da Amazônia em Tena, Equador, que propôs a teoria da inundação marinha.
Mas Dr. Paul Baker, geólogo da Duke University em Durham, Carolina do Norte, disse: “Na Colômbia, eu não tenho nenhum problema com a existência de uma incursão marítima.”
Mas o núcleo brasileiro o incomoda, porque o plâncton de aspecto marinho apareceu em outros lagos de água doce na Europa, diz ele. Mais convincente para Dr. Baker seria uma medição de isótopos de oxigênio nas conchas, o que poderia revelar se eles cresceram em sal ou água doce.
Dr. Jaramillo diz que já está trabalhando nisso. Ele também gostaria de encontrar mais fósseis amazônicos para estudar espécies que podem ter ido extinto durante este tempo dinâmico.
Por enquanto, há apenas uma coisa que Jaramillo, Hoorn e Baker podem concordar: eles precisarão perfurar e estudar mais núcleos de toda a região para resolver o mistério da biodiversidade da Amazônia.