Um animal com presas que se parece com uma criatura de um filme de terror é o primeiro anfíbio conhecido com glândulas dentárias tóxicas, dizem os cientistas.
Biólogos americanos e brasileiros encontraram glândulas orais de veneno em um anfíbio (Siphonops annulatus) da ordem Gymnophiona (ordem das cobras-cegas e Cecílias).
Esses anfíbios são morfologicamente semelhantes a cobras, mas estão mais próximos filogéneticamente dos sapos e salamandras. Essa nova espécie pode atingir até 43 centímetros de comprimento.
Os pesquisadores já sabiam que animais dessa ordem têm caudas venenosas. Além disso, é sabido que eles produzem um gel lubrificante que lhes permitem mergulhar rapidamente no subsolo para escapar dos predadores.
Mas eles agora encontraram pequenas glândulas orais cheias de líquido na mandíbula superior e inferior para incapacitar sua presa.
A descoberta foi feita no Brasil. Apesar de não terem membros e apenas uma boca para caçar, esses anfíbios ativam as glândulas orais quando mordem vermes, cupins, sapos e lagartos.
As glândulas na base de seus dentes produzem enzimas que são comumente encontradas no veneno de cobra.
Os pesquisadores acham que esse animal, também chamados de Gimnofiono, é o primeiro do grupo de vertebrados, dentro dos anfíbios, a desenvolver um sistema de injeção de veneno através dos dentes.
Gimnofionos e suas características
Gimnofionos, que não são cobras nem minhocas, são encontrados nos climas tropicais da África, Ásia e Américas.
Alguns são aquáticos e outros, como o Siphonops annulatus vivem em tocas feitas por eles mesmos.
Normalmente eles são quase cegos e usam uma combinação de tentáculos faciais e lodo para navegar pelos túneis subterrâneos.
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Em 2018, a equipe relatou que o Siphonops annulatus secretava substâncias a partir de glândulas da pele em ambas as extremidades do corpo em forma de cobra.
“Como os Gimnofionos são um dos vertebrados menos estudados, sua biologia é uma caixa preta cheia de surpresas”, disse o autor sênior Dr. Carlos Jared no Instituto Butantan em São Paulo.
“Esses animais produzem dois tipos de secreções, uma é encontrada principalmente na cauda que é venenosa, enquanto a cabeça produz um muco para ajudar a rastejar pela terra.”
As glândulas da cauda estão armadas com uma toxina, que atua como uma última linha de defesa química.
Os biólogos descobriram apenas mais tarde que as amostras possuíam pequenas glândulas cheias de líquido na mandíbula superior e inferior, com longos ductos que se abrem na base de cada um dos seus “dentes em forma de colher”.
“Como os Gimnofionos não têm braços ou pernas, a boca é a única ferramenta que eles precisam caçar”, disse a coautora Dra. Marta Maria Antoniazzi, bióloga evolucionária do Instituto Butantan, São Paulo.
“Acreditamos que eles ativam suas glândulas orais no momento em que mordem, e biomoléculas especializadas são incorporadas em suas secreções.”