Uma longa linha de pesquisa tem associado pobreza e depressão. Agora, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Duke mostra como a biologia pode ser a base da depressão. Principalmente cujas famílias estão em condições de vulnerabilidade socioeconômica.
Pobreza e depressão – Publicado no jornal Molecular Psychiatry dia 24 de maio de 2016, o estudo combinou genética, estudos de imageamento cerebral e dados comportamentais. Foram coletados dados de adolescentes acompanhados, por mais de três anos, como parte de um estudo maior.
Os resultados se juntam a um crescente corpo de informação que pode levar a preditores biológicos capazes de guiar estratégias de prevenção da depressão.
Adolescentes que crescem em casas com status socioeconômico menor mostraram maior acúmulo de uma certa “assinatura” química em um gene ligado à depressão, no curso de dois anos.
Pobreza e depressãoEssa “assinatura” epigenética trabalha alterando a atividade dos genes. Quanto mais dessas “assinaturas” químicas um indivíduo possui, mais responsiva era a sua amígdala ( área do cérebro que coordena as reações do corpo em relação à ameaças) à fotografias de rostos que expressavam medo, enquanto era submetido a um escaneamento cerebral por MRI. Participantes com uma amígdala mais ativa tinham mais chances de registrar sintomas de depressão mais tarde.
Primeira pesquisa
“Essa é a primeira pesquisa a demonstrar que o status socioeconômico baixo leva à mudanças no jeito em que os genes são expressos. Ela também mapeia isso através do desenvolvimento para a experiência futura de sintomas de depressão,”. Disse a autora principal do estudo, Johnna Swartz, pós-doutoranda no laboratório de Ahmad Hariri de Duke e professora de psicologia e neurociência.
A adolescência dificilmente é um período fácil para qualquer um. Mas crescer em uma família de baixo status socioeconômico pode adicionar tensões maiores, como discórdia familiar e caos, e riscos ambientais como nutrição deficiente e tabagismo.
“Esse pequenos aborrecimentos diários se acumulam e afetam o desenvolvimento da criança,” diz Swartz.
“O maior fator de risco que temos atualmente para depressão é um histórico familiar para essa condição,”. Disse o coautor do estudo, Douglas Williamson, principal investigador do TAOS e professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Duke. “Nosso novo trabalho revela um dos mecanismos através do qual esse risco familiar pode se expressar em um grupo particular de indivíduos vulneráveis durante a adolescência.”
Trabalho anterior
O trabalho anterior da equipe, publicada ano passado pelo jornal Neuron, mostrou que o escaneamento por fMRI da atividade da amígdala poderia sinalizar quem tem maior probabilidade de experienciar depressão ou ansiedade como resposta ao estresse, mesmo vários anos depois.
Swartz disse que o novo estudo examinou uma variedade de status socioeconômicos. Mas não focou em famílias afetadas por extrema pobreza ou negligenciadas. Ela disse que os achados sugerem que mesmo status socieconômicos modestamente mais baixos estão associados com diferenças biológicas. E essas diferenças elevam o risco dos adolescentes de terem depressão.
A equipe agora está vasculhando o genoma atrás de novos marcadores que possam prever depressão. Em última análise, um painel de marcadores usados simultaneamente levará a previsões mais precisas, disse Swartz.
Eles também esperam expandir o escopo das idades dos participantes. Para incluir indivíduos mais jovens, e continuar seguindo os participantes de TAOS até a fase do início da idade adulta.
“À medida que se tornarem jovens adultos, eles irão experienciar mais problemas com depressão e ansiedade. Podem até mesmo fazer abusos de substâncias,” disse Hariri. “É importante sabermos mais sobre a nossa avaliação. E até que ponto ela sabe sobre nosso genoma e cérebro. E também se vai continuar servindo como fator de previsão de sua saúde geral. Estamos animados para este estudo.”
A pesquisa conclui que pobreza e depressão andam juntos.
Fonte: Scientific American