A expressão mutação genética é comumente interpretada como um sinal de alerta. Principalmente sobre o risco de desenvolver doenças ou a causa direta de certos problemas de saúde. Mas elas dão origem aos genes esportistas.
Os genes esportistas – Apesar de muitos marcadores genéticos terem sido associados ao bom desempenho em certos esportes, alguns pesquisadores da área são cautelosos a respeito do significado prático dessas correlações. “Replicar esses trabalhos é sempre difícil”, afirma o médico Masashi Tanaka, do Hospital Geriátrico Metropolitano de Tóquio, estudioso da ligação dos genes com a prática de esportes.
O pesquisador japonês está iniciando um trabalho em que vai sequenciar o genoma completo de um pequeno número de fundistas do Quênia e da Etiópia, dois países africanos famosos pelos corredores de provas de longa distância. “Para ter uma amostra maior nos estudos, é preciso também incluir esportistas amadores ao lado dos atletas de elite”, diz o médico.
Allun Williams, especialista em esporte e genômica do exercício da Universidade Metropolitana de Manchester (Reino Unido), pensa de modo semelhante. “Muitos resultados que associam variantes de genes ao desempenho esportivo são provavelmente ‘falsos positivos’ e de difícil intepretação”, afirma Williams. “Esses estudos não foram reproduzidos por outros grupos de pesquisa. Foram feitos com pequenas amostras de esportistas, frequentemente juntando dados de atletas de diferentes esportes.”
Interação genética
Embora seja sabidamente um problema de saúde ligado ao estilo de vida e à ação e interação de vários genes, boa parte dos remédios que mantêm sob controle a pressão arterial de pessoas hipertensas atua em apenas um gene, o ECA, que codifica a enzima conversora de angiotensina. Ao lado do ACTN3, o ECA faz parte do índice genético composto de quatro marcadores moleculares para prática esportiva adotado no Atletas do Futuro. Os outros dois genes são o AGT (que codifica a proteína angiotensinogênio, também importante na regulação da pressão) e o BDKRB2 (que produz um receptor da bradicinina, um composto vasodilatador).
Nem sempre é possível fazer testes genéticos e alterar a rotina de treinos de atletas de alto desempenho. Nesses casos, é mais factível estudar pessoas que fazem esporte por prazer ou como hobby. A professora de educação física Ana Sierra estuda desde 2006 as reações cardíacas que ocorrem em maratonistas amadores. Ela está terminando seu doutorado sobre o tema na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).
Ana recentemente introduziu as análises genéticas em seus trabalhos, graças a uma colaboração com a equipe de Pesquero. Em um estudo ainda não publicado, feito a partir do DNA de 49 maratonistas do sexo masculino com idade entre 20 e 55 anos. Ela constatou que certos indivíduos com mutações no gene ECA e em outro denominado BNP parecem se recuperar mais lentamente após terem percorrido os 42 quilômetros da prova. “A fadiga cardíaca decorrente de uma maratona pode se prolongar por até 15 dias”, afirma Ana.
Fonte: Fapesp