O clitóris é frequentemente apontado como o único órgão do corpo feminino projetado exclusivamente para o prazer. Mas há décadas, os cientistas debatem se isso também pode ter alguma função reprodutiva.
Uma nova pesquisa está sendo avaliada, sugerindo que o órgão realmente desempenha um papel no incentivo à concepção.
O clitóris apareceu pela primeira vez na literatura ocidental em 1545, quando se acreditava ter uma função urinária. Mas em 1559, o professor de anatomia italiano Realdo Colombo realizou seu objetivo sexual, descrevendo-o como “a sede do prazer de uma mulher”, embora nem todos concordem.
Foi até sugerido que o órgão tinha função zero e não existia em mulheres saudáveis.
Passaram-se mais de 450 anos e o clitóris ainda é um mistério.
Sabemos que definitivamente o clitóris desempenha um grande papel no prazer sexual, mas essa é sua única função?
O cientista e investigador Dr. Roy Levin, baseado em Sheffield, realizou uma revisão dos trabalhos de pesquisa sobre o assunto. Suas descobertas são publicadas na Clinical Anatomy.
Examinando 15 estudos publicados entre 1966 e 2017, Levin concluiu que, além de proporcionar prazer, a estimulação do clitóris também leva a mudanças físicas que incentivam a fertilização bem-sucedida do óvulo.
Por exemplo, ao alongar a vagina, ele move o colo do útero, a parte mais baixa do útero, equipada com uma pequena passagem que permite a entrada de espermatozóides, dentro do corpo.
Esse processo, conhecido como “tentação vaginal”, impede o esperma de entrar no útero antes que suas caudas móveis sejam ativadas e prontas para impulsioná-las para a frente.
Além desse processo, Levin diz que a estimulação do clitóris melhora o fluxo sanguíneo para a vagina, aumenta a lubrificação e afeta o pH, o que ajuda na reprodução.
“Todas essas mudanças genitais tomadas em conjunto são de grande importância para facilitar a possibilidade de sucesso reprodutivo (e, portanto, a propagação de genes), não importa como ou quando o clitóris é estimulado – elas revelam sua função reprodutiva negligenciada”, escreve Levin.
Levin observa que seu trabalho pode ser visto como um ataque à sexualidade feminina, reduzindo o prazer sexual a algo que desempenha uma função procriacional, mas argumenta que seu objetivo reprodutivo não supera seu papel na produção de prazer sexual.
“O clitóris tem, portanto, funções reprodutivas e recreativas (prazer) de igual importância”, escreve ele.
Levin também usa seu argumento para criticar a mutilação genital feminina, ou circuncisão feminina, uma prática usada em várias comunidades que envolve mutilar ou remover o clitóris.
É mais prevalente em partes da África, Oriente Médio e Ásia e geralmente é realizada em meninas jovens. É frequentemente usado para impedir que meninas e mulheres façam sexo antes do casamento ou fora do casamento.
Conforme observado pela Organização Mundial da Saúde, ela não traz benefícios à saúde e causa apenas danos – desde dores e sangramentos a problemas urinários e até a morte.
Além do trauma físico e psicológico que causa, Levin observa que também pode prejudicar a fertilidade, dificultando a concepção.
Embora Levin faça um caso interessante, são necessárias mais pesquisas para respaldar suas descobertas. Talvez estudos futuros possam lançar uma nova luz sobre o objetivo do clitóris e resolver esse debate secular.