Durante a década de 1960, era comum, nos Estados Unidos, que crianças hiperativas recebessem um medicamento, conhecido como pílula da matemática, para ajudá-las a se concentrarem nas aulas.
A chamada “pílula da matemática”, a ritalina, continua sendo um dos tratamentos mais usados em vários países para tratar o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Em uma pesquisa de 1937, o psiquiatra Charles Bradley fez uma descoberta: depois de administrar anfetaminas a um grupo de crianças para tratar dores de cabeça, ele notou que elas tinham o surpreendente efeito de estimular sua concentração.
Sua descoberta foi investigada duas décadas depois, quando o psicólogo clínico Keith Conners, em 1964, da Universidade Johns Hopkins em Baltimore (EUA), fez o primeiro ensaio clínico aleatório com ritalina em crianças com “transtornos emocionais”.
O jovem pesquisador estava intrigado com a possibilidade do tratamento com drogas, porque os baseados em terapia não pareciam dar resultado. O estudo mediu concentração, níveis de ansiedade e impulsividade. A resposta das crianças foi imediatamente positiva.
“Estavam emocionadas de tomar um remédio que ajudava com suas tarefas. Sentiam que já não eram crianças problemáticas ou más”, disse Conners à BBC.
Depois que Conners e seus colegas publicaram os resultados, a ritalina começou a ser usada com mais frequência para tratar hiperatividade em crianças americanas.
Segundo o historiador Matthew Smith, os professores começaram a indicar crianças com problemas de conduta a psiquiatras, que quase sempre diagnosticavam transtorno de hiperatividade.
“O sistema escolar pressionava as crianças a se sentarem quietas nas carteiras e se concentrarem”, disse Smith.
Consumo ‘excessivo’
Apesar de haver ajudado a popularizar o medicamento na sociedade americana, Conners acredita que hoje ele é usado em excesso.
“Quando começamos, não conseguíamos convencer as pessoas de que havia crianças com TDAH. Agora parece que elas são encontradas até embaixo das pedras”, disse ele à BBC.
O psicólogo considera que este transtorno está sendo diagnosticado de forma excessiva e que outros fatores são ignorados.
“Um número significativo de crianças em idade escolar é dignosticado com TDAH quando, na realidade, pode ser que sejam muito jovens para a série em que estão. Ou podem ter outras desordens parecidas com o TDAH”, disse.
No Brasil, a discussão sobre consumo excessivo da droga entre crianças também ocorre.
Um boletim divulgado no ano passado pelo Ministério da Saúde diz que, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, o Brasil era, em 2010, o segundo maior consumidor de ritalina do mundo.
O ministério recomendou que os Estados aumentassem o controle sobre prescrição e distribuição da droga para evitar a “medicação excessiva” de crianças.
O documento diz que há estimativas discordantes sobre a ocorrência de TDAH em crianças e adolescentes no Brasil, que variam de 0,9% a 26,8%.
Fonte: BBC- Brasil