Os incêndios na floresta amazônica este ano, a maior prevalência de incêndios desde 2010, atraíram a atenção do planeta e trouxeram a consciência necessária para esse problema anual.
A poeira baixou por enquanto, mas os pesquisadores acabaram de revelar outra consequência inesperada da devastação causada pelos incêndios nas últimas décadas.
Um novo estudo, publicado na revista Scientific Reports, descobriu que a fumaça dos incêndios na Amazônia puderam alcançar a Cordilheira dos Andes e piorar o derretimento glacial.
Por sua vez, isso tem o potencial de interromper o suprimento de água de dezenas de milhões de pessoas que vivem próximas da cordilheira.
A pesquisa enfoca especificamente a geleira Zongo na Bolívia, usando dados coletados entre 2000 e 2016 em eventos de incêndio. Os geógrafos liderados pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro usaram modelos de dados e observações de satélite para rastrear o movimento de partículas de carbono dos incêndios em direção à geleira andina e medir seu efeito no derretimento glacial anual.
Os ventos transportam poeira e fuligem partículas dos incêndios centenas de quilômetros até que acabassem presos na neve e no gelo, tornando a geleira mais escura. As impurezas negras reduzem a capacidade da geleira de refletir a luz solar, um fenômeno conhecido como “albedo”, aquecendo-a e deixando-a mais suscetível ao derretimento.
Pelos dados deste estudo, altas concentrações de poeira e carbono preto na geleira resultam em um aumento de 11 a 14% no derretimento anual. Mesmo em concentrações mais baixas, as geleiras experimentam um aumento de 3 a 6% no derretimento.
A dependência de água
Geleiras, incluindo as dos Andes, são uma importante fonte de água para grande parte do planeta. Estima-se que 75 milhões de pessoas dependem da água das geleiras andinas; portanto, qualquer contaminação do gelo tem o potencial de afetar a vida cotidiana de milhões de pessoas que vivem nos países vizinhos.
“Isso não pode ser considerado uma questão regional. Em vez disso, tem implicações sociais em escala continental”, disse Dr. Newton de Magalhães Neto, do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, segundo a AFP.
A Amazônia é um dos biomas mais importantes do nosso planeta, desempenhando um papel fundamental na manutenção dos processos naturais da Terra. Ela também abriga a maior coleção de plantas e espécies animais do mundo.
Os incêndios ocorrem na floresta amazônica todos os anos durante a estação seca, geralmente entre julho e novembro. No entanto, os incêndios este ano foram notavelmente galopantes – três vezes maior que em 2018 e o maior número desde 2010.
Os incêndios são quase exclusivamente iniciados por seres humanos como parte de um método de “corte e queima” para limpar terras para agricultura, infraestrutura , gado, exploração madeireira e mineração.