A droga hidroxicloroquina, usada no tratamento contra malária, tem sido apontada por alguns, incluindo o presidente Bolsonaro, como uma cura quase milagrosa para o COVID-19. Mas nas últimas semanas pouco se fala sobre ela. Agora você pode entender o motivo desse sumiço.
Pesquisadores no Irã examinaram seis estudos, incluindo pequenos estudos da França e da China, que sugeriram que o medicamento poderia reduzir o tempo de recuperação.
Todos os seis estudos compararam a hidroxicloroquina com o tratamento padrão, que pode incluir monitoramento, fluídos, oxigênio e outros cuidados de suporte, conforme necessário. Em todos os estudos, não houve diferenças estatisticamente relevantes nos resultados dos pacientes que tomaram hidroxicloroquina e dos que não tomaram.
O estudo foi publicado na revista medRxiv no dia 20 de Abril.
Alguns pontos positivos também apareceram no estudo. Um número pouco maior de pessoas que tomaram o medicamento mostraram pulmões mais claros em comparação com aqueles em tratamento padrão. E depois de tomar o medicamento, o material genético do vírus também foi detectado em um número menor de pessoas do que naqueles que não tomaram o medicamento.
Mas também houveram efeitos colaterais, como erupções cutâneas e dores de cabeça, no grupo que tomou hidroxicloroquina. Os pesquisadores alertam que havia poucos pacientes nos estudos para chegar a uma conclusão definitiva sobre se o medicamento funciona.
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Enquanto isso, pesquisadores da Carolina do Sul e da Virgínia examinaram registros de 368 pacientes do sexo masculino com COVID-19 internados nos centros médicos da Administração de Saúde dos Veteranos dos EUA de 9 de março a 11 de abril.
Esse estudo retrospectivo também não mostrou benefício em tomar hidroxicloroquina sozinha ou em combinação com azitromicina. A equipe médica publicou o estudo no dia 21 de abril também no medRxiv.org.
A azitromicina é um antibiótico que também trabalha para atenuar a inflamação. Alguns estudos estão testando-o em combinação com a hidroxicloroquina.
Essa equipe também descobriu que houve mais mortes entre os homens que tomavam hidroxicloroquina em relação aos que não tomavam o medicamento. Hidroxicloroquina mais azitromicina não se associaram a uma maior taxa de mortalidade.
A hidroxicloroquina impediu o coronavírus de infectar células de macaco em testes de laboratório. O medicamento é usado no tratamento de pessoas com doenças auto-imunes; portanto, os pesquisadores esperam que ele também acalme reações imunológicas hiperativas que danificam os pulmões e outros órgãos em pacientes com COVID-19 gravemente enfermos.
Entretanto sabe-se que a hidroxicloroquina interfere nos ritmos cardíacos e pode levar a ataques cardíacos repentinos, trazendo potencialmente mais danos aos pacientes do que benefícios.