Os médicos necessitam intensamente de novas abordagens de tratamento para o glioblastoma, a forma mais agressiva de câncer no cérebro.
A barreira hematoencefálica – uma bainha protetora que separa o tecido cerebral de seus vasos sanguíneo – acaba por dificultar o tratamento de glioblastoma, pois impede que as drogas ataquem a doença. Também é difícil de remover completamente através da cirurgia, pois pequenos remanescentes inevitavelmente geram novos tumores.
Mesmo com os melhores cuidados atualmente disponíveis, o tempo médio de sobrevivência é de terríveis 15 meses, e apenas 10% dos pacientes sobrevivem cinco anos uma vez diagnosticado.
A equipe da Universidade de Duke decidiu perseguir uma opção de tratamento agressivo para combinar com seu adversário, voltando-se para a bactéria Salmonella typhimurium.
Com alguns ajustes genéticos, os engenheiros transformaram a bactéria em um míssil que procura câncer, que produz ordens de autodestruição dentro dos tumores. Testes em modelos de ratos com casos extremos da doença mostraram uma notável taxa de sobrevivência de 20% durante 100 dias – aproximadamente equivalente a 10 anos humanos – com os tumores entrando em remissão completa.
A sacada inteligentíssima
Estudos anteriores mostraram, muito acidentalmente, que a presença de bactérias pode fazer com que o sistema imunológico reconheça e comece a atacar tumores. No entanto, ensaios clínicos de acompanhamento com cepas geneticamente desintoxicadas de S. typhimurium desde então têm demonstrado ineficácia por si mesmos.
Para usar estas comuns bactérias intestinais como mísseis que procuram tumores, os pesquisadores selecionaram uma cepa desintoxicada de S. typhimurium que também era deficiente em uma enzima crucial chamada purina, forçando as bactérias a procurarem suprimentos em outro lugar.
Os tumores são uma fonte excelente de purina, fazendo com que as bactérias se reúnam a eles em massa.
Em seguida, os engenheiros fizeram uma série de ajustes genéticos para que as bactérias produzissem dois compostos chamados Azurin e p53 que instruem as células a cometerem suicídio – mas apenas na presença de baixos níveis de oxigênio. E uma vez que as células cancerosas estão se multiplicando com tanta energia, o ambiente ao redor e dentro dos tumores tem um oxigênio consideravelmente baixo.
Os resultados apareceram online em 21 de dezembro de 2016, na revista Molecular Therapy – Oncolytics.