Como as mudanças climáticas afetarão os oceanos do mundo? Os cientistas começaram a traçar a forma como as águas aquecidas afetarão os ecossistemas marinhos.
Agora, os ecologistas marinhos que trabalham na costa da Península Antártica mostraram que um aumento repentino de 1ºC na temperatura da água do mar, uma mudança que deverá acontecer em meio século, altera drasticamente as comunidades oceânicas.
A diversidade de espécies despencou, e certas criaturas, como pequenos “animais de lodo”, passaram a dominar o fundo do mar.
“Eu acho que temos provas de que entramos em uma nova era, a era do calor”, diz Dr. Mark Urban, um ecologista da Universidade de Connecticut em Storrs, que não estava envolvido no estudo.
Para o autor principal, Dr. Gail Ashton, ecologista marinho no Smithsonian Environmental Research Center em Tiburon, Califórnia, o estudo “acrescenta à evidência de que vamos ver mudanças muito significativas bastante cedo”.
O estudo
Para prever como as comunidades biológicas respondem às mudanças climáticas, os cientistas tipicamente testam organismos por organismos, removendo plantas e animais de seus lares oceânicos e examinando como eles reagem em tanques aquecidos.
Mas os resultados dessa metodologia podem não representar exatamente o que ocorre no fundo dos oceanos. Então Dr. Ashton e sua equipe decidiram estudar o aquecimento no próprio oceano.
Esse foi primeiro estudo desse tipo, e os pesquisadores envolveram resistências elétricas de aquecimento em caixas plásticas.
Então, aninharam as caixas em partes do fundo do mar perto da Estação de Pesquisa Rothera na Antártica, onde aqueceram uma fina camada de água em 1°C ou 2°C acima da temperatura ambiente.
Esses aumentos correspondem ao aumento esperado da temperatura global nos mares rasos nos próximos 50 e 100 anos, respectivamente, pelo painel intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, assumindo que nenhum esforço adicional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa seja implementado.
Durante 9 meses, os pesquisadores monitoraram a distribuição e o crescimento de espécies marinhas que se estabeleceram nas caixas aquecidas e as compararam com as que viviam nas caixas não aquecidas.
Na caixa com aumento de 1°C, uma única espécie de animal, Fenestrulina rugula, duplicou sua taxa de crescimento.
Dentro de 2 meses, essa espécie dominou a comunidade, a equipe reporta hoje em Current Biology. Além disso, a diversidade geral de espécies despencou em 50%.
Mas nos locais de aquecimento de 2°C, esses animais começaram a diminuir, embora suas colônias ainda fossem maiores que na temperatura ambiente.
Em contrapartida, outra espécie, Protolaeospira stalagmia, cresceu em até 30% mais rápidas em comparação com a taxa de crescimento de 1°C.
Mais pesquisas
Os pesquisadores dizem que os dados exigem experiências maiores e de longo prazo para testar como essas espécies podem se adaptar ao aquecimento gradual.
Dra. Janneke Hille Ris Lambers, uma ecologista da Universidade de Washington (UW) em Seattle, concorda. “O que veremos nos próximos 50 a 100 anos não será um aquecimento tão rápido de um período de tempo para o outro”.
As experiências futuras também devem considerar se as diferenças observadas na comunidade do fundo do mar são devidas às mudanças de temperatura, que podem afetar diretamente o funcionamento dos organismos, ou se eles são devidos aos efeitos indiretos de diferentes espécies que competem um com o outro, disse Dra. Jennifer Sunday, ecologista da UW.
Mas ela ainda está entusiasmada com a nova abordagem “warm up-and-watch”, que ela espera que possa ser usada em outros lugares para prever os efeitos das mudanças climáticas em ecossistemas inteiros.